Registros rupestres da Toca do Gado, Município de São Gabriel - BA

 

Raphael Godinho Martins dos Santos raphael.88@hotmail.com
Bacharel em Arqueologia e Preservação Patrimonial pela Universidade Federal do Vale do São Francisco Rua João Ferreira dos Santos, S/N; Bairro Campestre; São Raimundo Nonato – PI; CEP: 64.770-000.

Celito Kestering celito.kestering@gmail.com
Licenciado em Filosofia, Psicologia e Sociologia pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL (1974); bacharel em Agronomia pela Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco – FAMESF (1980); mestre em História (2001) e doutor em Arqueologia (2007) pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE; Professor adjunto 4, no Colegiado do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. Rua João Ferreira dos Santos, S/N; Bairro Campestre; São Raimundo Nonato – PI; CEP: 64.770-000.


RESUMO

Este trabalho apresenta como objeto de estudo os registros rupestres da Toca do Gado, localizada no município de São Gabriel - BA. Identificam-se padrões gráficos na tentativa de reconhecer atributos da identidade de seus autores. Fez-se o levantamento cadastral do sítio com preenchimento de fichas e tomada de fotografias, além da contextualização ambiental da área em estudo. A partir das fotografias, realizou-se uma análise com a adoção dos parâmetros da cognoscibilidade e da temática dominante. Com os resultados preliminares dessa análise, propõe-se que o conjunto de representações gráficas da Toca do Gado está ligado à Tradição São Francisco. A consubstanciação da temática dominante do sítio servirá para comparação em futuras pesquisas a serem realizadas no município em questão, para filiar seus registros gráficos a uma subtradição.

Palavras-chave: Registro rupestre. Cognoscibilidade. Temática. Toca do Gado.


ABSTRACT

This paper presents as the object of study rock record of the archaeological site Toca do Gado, located in the municipality of São Gabriel, Bahia. It identifies chart patterns in an attempt to recognize attributes of the identity of their authors. It did the cadastral survey of the site with chips fill and taking photos, in addition to the environmental context of the study area. From the photographs, there was an analysis by adopting the parameters of knowledgeability and the dominant theme. With the preliminary results of this analysis, it is proposed that the set of graphical representations of Toca do Gado is connected to the tradition San Francisco. The substantiation of the dominant theme of the site will serve for comparison in future research to be conducted in the municipality in question, to join its graphic records to a subtradição.

Keywords: Rock record. Knowledgeability . Theme. Toca do Gado.

 

1. INTRODUÇÃO

Neste trabalho busca-se levantar dados preliminares sobre as pinturas rupestres da Toca do Gado, no Município de São Gabriel – BA para classificá-las e filiar seus autores em uma tradição e formular uma hipótese relativa a uma subtradição. Tem-se o objetivo de reconhecer atributos da identidade dos autores das pinturas que se encontram expostas no suporte rochoso da aludida toca. Para isso utilizam-se os parâmetros da cognoscibilidade e da temática dominante.

De modo bastante simplificado, a Arqueologia é a ciência que estuda o homem pretérito a partir das evidências culturais. É através da cultura material remanescente que o arqueólogo traz à tona informações a respeito do cotidiano de grupos do passado. Ele busca entender aspectos sociais, políticos e culturais desses grupos com base nos achados dispersos no ambiente. Para Rambelli (2002), a Arqueologia resume-se no estudo de sociedades através de sua cultura material em seu devido contexto. Segundo Funari e Noelli (2002, p. 15):

Os vestígios materiais associados aos homens são estudados pela arqueologia, uma ciência voltada, precisamente, ao estudo do mundo material à vida em sociedade. Por meio de prospecções e escavações arqueológicas, recuperam-se vestígios que podem nos informar sobre os mais variados aspectos da vida no passado.

Entre os vestígios arqueológicos incluem-se os registros rupestres que estão espalhados em grande parte do território brasileiro. Com eles fazem-se investigações a respeito de grupos pré-coloniais. Eles são os restos arqueológicos mais conhecidos pelos grupos não especializados porque são reconhecíveis por todos e despertam questionamentos sobre suas origens (ETCHEVARNE, 1999-2000, p. 126).

As representações rupestres podem gerar imensuráveis formas de especulação e interpretações a respeito dos seus significados. Segundo Prous (2007, p. 40):

Com certeza não eram obras de “arte” no sentido que damos hoje à palavra. É claro que, durante todos esses milênios e em tantos lugares, algumas pessoas podem ter deixado simples graffiti, e outros desenhos talvez fossem feitos para fins decorativos. No entanto, o mais provável é que a maioria dos grafismos tenha sido feita como afirmação de etnicidade, expressão de uma crença, ato mágico, proclamação política de status, trato ou posse.

Hoje em dia, com o avanço das pesquisas em torno do assunto, é quase consensual entre os pesquisadores que não é possível abordar esse universo apenas por meios interpretativos fantasiosos. Eles são elementos vestigiais produzidos por grupos sociais que não estão mais entre nós. Por isso procura-se classificar essas evidências arqueológicas na busca de identificar seus autores, através de procedimentos teóricos e metodológicos. Cada grupo deixa seus traços na sua cultura material, como explicita Kestering (2007, p. 20): “No processo de realização de artefatos, os padrões motores dos indivíduos imprimem marcas que se conservam e permitem o reconhecimento de atributos que definem a identidade do grupo”.

Este trabalho é relevante porque os dados que se obtiveram poderão ser utilizados como referências para estudos comparativos que vierem a ser realizados em outros sítios de pinturas e gravuras rupestres do Vale do São Francisco e do Nordeste do Brasil.

Até o momento atual, identificaram-se apenas dois sítios arqueológicos com registros rupestres no Município de São Gabriel. Um deles é a Toca do Gado, objeto do presente trabalho, e o outro é a Toca do Progresso. Ambos foram identificados por Etchevarne em 2007. Contudo, os moradores da região afirmam que existem mais quatro ou cinco abrigos com pinturas nas suas adjacências. Este fato reforça o imperativo de que se faça um levantamento de atributos da identidade[1] dos autores dos registros gráficos para que eles sejam utilizados no estudo dos demais sítios.

Justifica-se a realização deste trabalho, pelo fato de que, o estudo do registro rupestre desta área será importante para a contextualização da mesma, e que, pelo diagnóstico dos atributos dos grupos que as fizeram, pode-se reconhecer a identidade dos autores. Nas ferramentas líticas e utensílios cerâmicos os grupos deixaram seus traços. Assim também no registro rupestre, os grupos manifestavam suas preferências e habilidades técnicas. Por isso, acredita-se que é possível reconhecer padrões gráficos nessas evidências arqueológicas, que possam levar ao reconhecimento de atributos da identidade dos autores.

Com base nos princípios teóricos e metodológicos, elaborou-se uma ficha cadastral para registro do sítio. Efetuaram-se as medidas do abrigo, tomaram-se as coordenadas e realizou-se o levantamento fotográfico dos painéis[2]. Em seguida, fez-se a caracterização geológica e ambiental da área onde o sítio está inserido para se desvendar alguns elementos do contexto ambiental em que viveram os autores dos registros rupestres.

Pressupõe-se que, pelo parâmetro da cognoscibilidade relacionada com longo período e amplo espaço classificam-se conjuntos de pinturas em tradições. Para fazer essa classificação distinguem-se as figuras em conhecíveis e reconhecíveis. As figuras são conhecíveis quando representam elementos do mundo concreto, conhecido pelos grupos autores das mesmas, assim como, pelos pesquisadores. Quando isso acontece, consegue-se acessar parte do significado das figuras analisadas porque se dispõe do código desvendado no contexto ambiental e/ou arqueológico.

Quando não se dispõe do código que permita a interpretação, classificam-se as figuras rupestres como reconhecíveis. Por expressarem realidades que não são conhecidas pelos pesquisadores elas são identificadas nas recorrências. Kestering (2007, p. 24) explica que se: “considera-se unidade gráfica um signo ou todo o conjunto de signos e espaços vazios de um painel, enquanto não são identificadas ocorrências de figuras tematicamente semelhantes em outros painéis. Eles são reconhecíveis, nas recorrências”.

Cognoscibilidade é a qualidade do que pode se tornar conhecido. Ela depende da interação do cognoscente, no caso o pesquisador, com o objeto cognoscível, ou seja, o registro rupestre. Existem pinturas que são facilmente identificáveis. Porém, há outras que dependem de alguns fatores como, o nível de conhecimento técnico, o quadro de referências do pesquisador (cognoscente) assim como, sua capacidade de percepção. Esses fatores podem levar o mesmo objeto cognoscível a ser classificado como conhecível por uns e reconhecível por outros.

Pelo parâmetro da temática dominante, relacionada a um território específico, com área bastante reduzida em relação à abrangência de uma tradição agrupa-se um conjunto de pinturas em uma subtradição. A temática faz referência à forma dos traços deixados por grupos no registro rupestre. Cada grupo deixava sua marca, ou seja, tinha suas formas preferenciais de pintar. Pelo critério da temática, identificam-se as preferências das formas que os autores de uma determinada sociedade utilizavam para representar realidades (PESSIS, 1992, apud KESTERING, 2007, p. 25).


2. APORTES TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

Quando se iniciaram os estudos do registro rupestre, levava-se muito em conta seu valor artístico. Eles foram frequentemente analisados com procedimentos análogos aos utilizados nos estudos de representações artísticas de sociedades atuais (PESSIS, 1992, p. 37). Gaspar (2003, p. 22) explica como esse quadro começou a mudar.

Com a descoberta de grafismos em locais de difícil acesso e de uma certa coerência interna aos painéis, ficou evidente o aspecto restrito desse ponto de vista. Já segundo as reflexões encabeçadas pelo Abade Henri Breuil (1877-1961) – Uma autoridade em arte do paleolítico que descobriu inúmeras cavernas e registrou enorme quantidade de grafismos na Europa, a arte era tratada em termos de magia simpática. Os desenhos de animais teriam sido feitos com o objetivo de controla-los na vida real. Por exemplo, o que se chamou de magia da caça pressupunha que o homem do paleolítico decorava as paredes das cavernas com imagens de animais para, através da magia, se favorecer nas caçadas. A magia da fertilidade também explicava alguns grafismos: os artistas teriam feito os desenhos para assegurar a reprodução dos animais e garantir alimentos no futuro.


Depois da morte de Abade Henri Breuil, os pesquisadores André Leroi-Gourhan e Annette Laming-Emperaire passaram a se destacar no estudo dos registros rupestres, com enfoque na estruturação reconhecida nos elementos artísticos dos painéis. Partindo desse viés, baseados na antropologia de Lévi-Strauss surgiram novos meios de interpretar o registro rupestre, deixando para trás as interpretações fantasiosas e dando ênfase a análise e a disposição espacial dos painéis com representações gráficas (GASPAR, 2003, p. 25). Desta forma procura-se reconhecer a identidade dos autores assim como posicioná-los cronologicamente. Como nas ferramentas líticas e utensílios cerâmicos, no registro rupestre[3], também se reconhecem padrões que levam ao reconhecimento dos autores. Neles expressam-se gestos e características comportamentais além das preferências dos grupos que os fizeram. Identificam-se, assim, atributos da identidade dos autores.

Reconhecem-se identidades pelos atributos. Entende-se por atributo cada uma das propriedades qualitativas ou quantitativas que distingue um membro de um conjunto. É uma característica que permite o reconhecimento de uma entidade. Atributos que permitem o reconhecimento de identidades coletivas são peculiaridades comuns, perceptíveis nos padrões físicos, da cultura material ou imaterial de um grupo. Um conjunto de indivíduos com atributos comuns constitui, assim, uma identidade coletiva. Pode-se, por isso, reconhecer a identidade de grupos pré-históricos, nos atributos conservados na cultura material da qual fazem parte os grafismos rupestres. (KESTERING, 2007, p. 31).

Alguns desses atributos são estruturais, por isso, se preservam durante milênios. Assim, os padrões gráficos que passam de geração em geração carregam particularidades com as quais se fazem inferências em relação à identidade dos autores. “Eles resultam de um conjunto de ações aprovadas pelo grupo, pois tudo o que acontece na vida cotidiana, sem a aprovação do grupo, não passa de expressões fortuitas, sem padronização”. (DUVIGNAUD, 1992 apud Kestering, p. 21). Mas há atributos que sofrem modificações por conta das relações sociais e ambientais dos grupos.

Grande parte das mudanças nos atributos culturais acontece nas relações pessoais ou grupais. As transmissões de atributos culturais de identidade podem acontecer no cruzamento horizontal de informações, quando indivíduos aprendem de seus contemporâneos; vertical, de seus antecessores ou oblíqua, de outras pessoas mais velhas. Quando as informações são transmitidas verticalmente, de pai para filho, ocorrem pouquíssimas mudanças; quando se cruzam no interior dos grupos sociais, são sutis; quando são transmitidas entre diferentes grupos sociais, as mudanças são radicais e, por isso, facilmente identificáveis. Quando as informações são repassadas de um para muitos, os atributos se propagam rapidamente, produzindo um considerável grau de mudança homogênea; quando a transmissão é feita de muitos para um, como no caso de um conselho de anciãos ou membros de uma geração mais velha, o resultado é também a uniformidade, mas a mudança é pouca (SHENNAN, 2002 apud KESTERING, 2007, p. 32).

Acredita-se que, para identificar os atributos de identidade dos autores, bem como, as modificações que eles sofreram, é preciso classificar o registro rupestre e desvendar o paleoambiente da área onde o sítio está inserido. Para segregar conjuntos de grafismos em classes é necessário que se adote um quadro teórico bem fundamentado. Segundo Kestering et al. (2013, p. 17), o modelo classificatório mais empregado para conjuntos de registros rupestres da região Nordeste é o que utiliza os conceitos de tradição, subtradição e estilo.

2.1. Tradição

A filiação do registro rupestre de um sítio a uma tradição cultural é possível pelo fato de os autores expressarem nele, assim como em outros artefatos, os traços culturais do seu grupo. O indivíduo que realiza as expressões gráficas rupestres revela nelas a estrutura do sistema de comunicação herdado, o mapa cognitivo elaborado na relação com o meio ambiente e o arsenal técnico do seu grupo social.

Segundo Costa (2012, p. 12) foi Calderón quem introduziu o conceito de tradição nos estudos de representações rupestres. Ele definia tradição como:

(...) o conjunto de características que se reflete em diferentes sítios ou regiões, associadas de maneira similar, atribuindo cada uma delas ao complexo cultural de grupos étnicos diferentes que as transmitiam e as difundiam gradualmente modificadas, através do tempo e do espaço.

Para Prous (1992, p. 511), “tradição é o conjunto mais abrangente de traços distintivos, geralmente temáticos”. Segundo Martin (2005, p. 240),

O conceito de tradição compreende a representação visual de todo um universo simbólico primitivo que pode ter sido transmitido durante milênios sem que, necessariamente, as pinturas de uma tradição pertençam aos mesmos grupos étnicos, além do que poderiam estar separados por cronologias muito distantes. O termo tradição está bem aceito e arraigado no Brasil para as macrodivisões de registros rupestres, se bem que nem todos os autores estejam de acordo com a sua conceituação. Já que o referido é utilizado também para as indústrias líticas e cerâmicas, equivalente ao conceito de horizonte cultural.

2.2. Subtradição

Segundo Martin e Asón (2000, p. 100), a subtradição define um grupo vinculado a uma tradição e adaptado a um meio geográfico e ecológico específico, o qual implica que se acrescentem elementos definidores novos. Para Pessis (1992, p. 50) as subtradições se estabelecem segundo critérios ligados à representação gráfica de um tema relacionado com a distribuição geográfica.

Para análise do conjunto de unidades gráficas utilizam-se os parâmetros do padrão de cognoscibilidade e da temática dominante. Pelo parâmetro da cognoscibilidade relacionada com um longo período e um amplo espaço, classificam-se conjuntos de pinturas em tradições. Pelo critério da temática, identificam-se as preferências de determinados grupos no modo de pintar e/ou gravar. Pode-se, assim, relacionar o registro de uma região específica a uma subtradição.

3. A TOCA DO GADO

O sítio arqueológico Toca do Gado (código 651), catalogado em 2007 por Carlos Etchevarne, é um abrigo sob rocha, composto por uma série de painéis de pinturas rupestres. O suporte rochoso que sustenta essas pinturas tem 53,5 metros de comprimento, 11,9 m de largura e uma altura estimada de 25 m. Sua orientação é nordeste-sudoeste e sua abertura, para o sudeste (Fig. 1).

Figura 1 – Vista geral da Toca do Gado; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)


O Sítio possui 20 painéis de pinturas rupestres (Fig. 2 a 21). Alguns desses registros sofreram muito com o desgaste causado pela ação do tempo. O principal agente de degradação dos registros rupestres da Toca do Gado é o homem. Há diversos nomes e desenhos sobre as pinturas. Os depredadores utilizaram carvão, giz, corretivo escolar e esmalte de decorar unhas para escrever e rabiscar em cima das evidencias arqueológicas feitas por grupos pretéritos que ocuparam o abrigo (Fig. 15). Na área do sítio, há, ainda, algumas estruturas de combustão, garrafas de bebida e fragmentos de ossos queimados. Isso mostra que o abrigo continua sendo utilizado.

Figura 2 – Painel 1; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 3 – Painel 2; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 4 – Painel 3; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 5 – Painel 4; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 6 – Painel 5; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 7 – Painel 6; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 8 – Painel 7; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 9 – Painel 8; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 10 – Painel 9; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 11 – Painel 10; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 12 – Painel 11; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 13 – Painel 12; Foto:
Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 14 – Painel 13; Foto:
Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 15 – Painel 14; Foto: Rafael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 16 – Painel 15; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 17 – Painel 16; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 18 – Painel 17; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 19 – Painel 18; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 20 – Painel 19; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)

 

Figura 21 – Painel 20; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)


3.1. Localização

A Toca do Gado (coordenadas: UTM 24L 205401 e UTMN 8786388) localiza-se na Serra do Triângulo, em uma área de fácil acesso, a cerca de 2 km do Assentamento Fazenda Esplanada. Situa-se no município de São Gabriel – BA, que faz limites com os municípios de Irecê, Morro do Chapéu, Jussara, João Dourado e Presidente Dutra, no Centro Norte Baiano, distante 490 km da capital do estado (Fig. 22 e 23).

 

Figura 22 – Localização de São Gabriel - BA e da Toca do Gado; Fonte: Google Earth e Wikipédia (2015), modificados pelos autores.

 

Figura 23 – Toca do Gado em relação às comunidades vizinhas, à Sede e a outras cidades. Fonte: Google Earth (2015), modificado pelos autores.



Para se chegar até o local é preciso, a partir da sede do município, pegar a rodovia BA-435 que liga a cidade de São Gabriel à vila de Gameleira do Jacaré. Quando se chega ao povoado de Besouro, se pega uma estrada vicinal com destino ao povoado de Caroazal. Ao chegar nesta localidade, é preciso pegar outra estrada vicinal e seguir por ela até chegar à Fazenda Assentamento Esplanada. Daí percorre-se dois km de estrada até alcançar a Toca do Gado. Chega-se de carro até cerca de 500 metros do sítio.

3.2. Vegetação do Entorno

A vegetação na área onde se insere a Toca caracteriza-se como caatinga de baixo porte, com dossel descontínuo, folhagem decídua na estação seca e árvores com ramificação profusa, comumente armada de acúleos ou espinhos. Nela é frequente a presença de microfilia e características xeromórficas (GIULIETTI et al., 2002, apud MACHADO et al. 2011, p.165).

Na ida a campo observaram-se espécies como umburana de cambão (Commiphora leptophloeos); angico (Anadenanthera colubrina); aroeira (Myracrodruon Urundeuva); coroa de frade (Melocactus bahiensis); xiquexique (Cephalocereux gounellei); jurema preta (Mimosa hostilis); quebra faca (Croton conduplicatus); umbuzeiro (Spondias tuberosa); favela (Cnidoscolus phyllacanthus); mandacaru de boi (Cereus jamacaru); mandacaru facheiro (Pilosocereus pachycladus); pereiro (Aspidosperma pyrifolium); caroá (Neoglaziovia Variegata); cansanção (Cnidoscolus vitifolius); macambira (Bromelia laciniosa); e marmeleiro (Cydonia vulgaris) (Fig. 24).

 

Figura 24 – Vegetação próxima ao Sítio - Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)



3.3. Fauna

Em conversa com alguns moradores do Assentamento Esplanada e do povoado de Caroazal, localidades mais próximas do Sítio, respectivamente, levantou-se a fauna local. Ela é constituída principalmente de pássaros como cancã (Cyanocorax cyanopogon); cardeal (Paroaria coronata); juriti (Leptotila verreauxi); anum preto (Crotophaga ani); sofrê (Icterus jamaicaii); carcará (Polyborus plancus); nambu (Crypturellus parvirostris); azulão (Cyanoloxia brissonii); bem te vi (Pitangus sulphuratus); joão de barro (Furnarius rufus); canário (Sicalis flaveola).

É muito comum a presença de insetos como cupim (Crytotermes brevis); formiga (Formicidae sp.) e de cobras como cascavel (Crotalus durissus); jararaca (Bothrops jararaca); corre campo (Themnodynastes Pallidus); gibóia (Boa constrictor); coral (Micrurus corallinus) e caninana (Spilotes pullatus). Há, ainda, muitos outros animais como tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus); tatu peba (Euphractus sexcinctus); veado (Mazama gouazoubira); gambá (Didelphis sp.); mixila (Tamandua tetradactyla); preá (Cavia aperea) e raposa (Dusicyon thous).

Próximo ao abrigo há muitas evidências da presença de animais domésticos. Ali se encontram muitas fezes de bovinos, caprinos, ovinos, asininos e suínos.

3.4. Geologia

O suporte das pinturas rupestres é constituído de calcarenito preto estratificado do Supergrupo São Francisco formado no Proterozóico Superior (Fig. 25). Esse supergrupo geológico abriga a camada litoestratigráfica do grupo Una, Formação Salitre, Unidade Jussara, depositado sobre o Cráton do São Francisco (ANGELIM, 1997, p. 34).

O Grupo Una teve sua deposição inicial (Formação Bebedouro) relacionada a um evento glacial de âmbito continental, no intervalo de tempo relativo ao início do Proterozóico Superior. Posteriormente, a implantação gradativa de um clima semiárido possibilitou a liberação das águas retidas nas geleiras, o que contribuiu para elevar o nível médio dos mares, gerando as condições para deposição das unidades carbonáticas da Formação Salitre, em ambientes de supra, inter e submaré (ROCHA e PEDREIRA, 2009, p. 75).

A Unidade Jussara compreende calcarenitos finos a grossos, calcissiltitos e calcilutitos de coloração cinza escuro a preta (Fig. 26). Esta unidade depositou-se sob a ação de ondas e correntes sujeitas à ação de tempestades (DOMINGUEZ, 1996, apud TEIXEIRA da SILVA et al.,2001, p. 36 ).

 

Figura 25 – Associação de fácies que integram o Grupo Una na região do sítio - Fonte: Rocha e Pedreira (2009) modificada pelos autores

 

Figura 26 – Calcarenito preto estratificado da Toca do Gado; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos (2015)



3.5. Recursos Hídricos


O curso de água mais próximo da Toca do Gado é a Vereda do Romão Gramacho, também conhecido como Rio Jacaré. Ele passa a 13 km da área do sítio. Esse rio nasce na divisa dos municípios de Seabra e Barra do Mendes. Ele tem 250 km de extensão e deságua no Rio São Francisco. Sua bacia ocupa uma área correspondente a 18.328 km_ (CODEVASF, 2013).

A população que reside nas adjacências da Toca sofre com a escassez de água. Ela sobrevive com a água das chuvas, reservada em tanques, açudes e cisternas. Em períodos de secas prolongadas, necessita do apoio de carros pipas. A estiagem na região se prolonga desde o ano 2004. Por causa dela, das 28 famílias assentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) na Fazenda Esplanada, pelo menos a metade já abandonou a localidade.


4. ANÁLISE

Nesse capítulo faz-se a análise dos 20 painéis de pinturas identificados no Sítio Toca do Gado. Utilizam-se os critérios da cognoscibilidade e da temática dominante.

4.1. Cognoscibilidade

Cognoscibilidade é a qualidade do que pode se tornar conhecido. Ela depende bastante da interação do cognoscente, no caso o pesquisador, com o objeto cognoscível, ou seja, o registro rupestre. Existem pinturas que são facilmente identificáveis. Há outras, porém, que dependem do nível de conhecimento técnico, das referências do pesquisador (cognoscente) assim como da sua capacidade de percepção. Estes fatores podem levar o mesmo objeto a ser classificado como conhecível por uns e reconhecível por outros.

Para fazer a classificação distinguem-se as figuras conhecíveis das reconhecíveis. As figuras são conhecíveis quando representam elementos do mundo concreto, conhecido pelos grupos autores, assim como, pelos pesquisadores. Quando isso acontece, consegue-se acessar parte do significado das figuras analisadas porque se dispõe do código desvendado no contexto ambiental e/ou arqueológico.

Quando não se dispõe do código que permita a interpretação, classificam-se as figuras rupestres como reconhecíveis. Por expressarem realidades que não são conhecidas pelos pesquisadores, elas são identificadas nas recorrências. Kestering (2007, p. 24), propõe que se considere uma unidade gráfica um signo ou todo o conjunto de signos e espaços vazios de um painel, enquanto não são identificadas ocorrências de figuras tematicamente semelhantes em outros painéis. Eles são reconhecíveis, assim, nas recorrências.

Pelo parâmetro da cognoscibilidade relacionada com longo período e amplo espaço classificam-se conjuntos de pinturas em tradições. Assim, costuma-se classificar os registros rupestres da região Nordeste do Brasil na Tradição Nordeste ou na Tradição São Francisco.

No conjunto gráfico da Toca do Gado, identificaram-se 22 (11%) figuras conhecíveis e 179 (89%) reconhecíveis (Tab. 1; Fig. 27).

Tabela 1 - Classificação das pinturas com base na cognoscibilidade. Fonte: Os autores (2016)

 

Figura 27 - Gráfico referente ao padrão de cognoscibilidade - Fonte: Os autores (2016)



4.2. Temática

A temática refere-se aos traços deixados por grupos no registro rupestre. Esses representavam realidades com formas e técnicas próprias de sua cultura. Cada grupo tinha formas preferenciais de pintar. Com a utilização do critério da temática dominante, relacionada com um território de abrangência regional, bastante reduzida em relação ao de uma tradição, agrupam-se conjuntos de pinturas e gravuras em subtradições. Segundo Kestering (2007, p. 26), a identificação da temática dominante no conjunto gráfico de uma tradição permite classificar conjuntos de grafismos em subtradições e reconhecer mudanças nos atributos de identidade de diferentes grupos ligados a ancestrais comuns.

Temática é o germe a partir do qual se podem desenvolver diferentes composições para representar realidades. As realidades representadas podem pertencer ao mundo imaginário ou material (sensível). Não se pode interpretá-las, porque não se dispõe do código de interpretação dos autores, mas se pode reconhecer, nas formas, a sua ocorrência e recorrência. (KESTERING, 2007, p. 25).

As temáticas dos grafismos conhecíveis caracterizam-se pela representação de expressões corporais ou atributos complementares de identidade, como ornamentação, forma e tamanho. As figuras reconhecíveis caracterizam-se pela presença de sinais específicos agenciados nas unidades gráficas. (KESTERING, 2007, p. 25).

Pelo parâmetro da temática dominante, relacionado a um território específico, com área bastante reduzida em relação à abrangência de uma tradição, é possível agrupar um conjunto de pinturas em uma subtradição.

Na tentativa de formular uma hipótese relativa a uma subtradição, adotou-se o critério da temática dominante. Por conta da quantidade de trabalhos e pela proximidade do sítio com a área arqueológica de Sobradinho[4] (cerca de 100 km), utilizaram-se pesquisas feitas nessa região, para a comparação.

Compararam-se as pinturas rupestres da Toca do Gado com as das pesquisas de Kestering (2007), Lima Filho (2013), Ribeiro (2014) e Souza (2014). Na tentativa de identificar recorrências temáticas, as figuras que se mostraram com temáticas correlatas com as identificadas por esses pesquisadores foram definidas por recorrentes (RT[5]). Já as pinturas com temáticas novas como não recorrentes (NR).

No universo de 201 figuras, identificaram-se 22 conhecíveis, com temáticas recorrentes (RT): 3 antropomorfos miniaturais redondos (RT-4), 18 lagartos (RT-9) e um braço (RT-83) (Fig. 28 a 31). A recorrência temática RT-83, aqui, denominada de braço, apareceu na pesquisa de Kestering (2007) como não recorrente (NR-02).

Figura 28 - Gráfico referente àsfiguras conhecíveis; Fonte: Os autores (2016)

 

Figura 29 - Recorrência temática
RT-4 (antropomorfo miniatural redondo); Fonte: Kestering (2007, p. 80) e Toca do Gado, painel 15.

 

Figura 30 - Recorrência temática RT-9 (lagarto); Fonte: Kestering (2007, p. 82) e Toca do Gado, painel 13.

 

Figura 31 - Recorrência temática RT-83 (braço); Fonte: Kestering (2007, p. 83), Toca do Gado, painel 15



Das 179 figuras reconhecíveis identificou-se a temática de 76. 73 (41%) apresentaram temáticas recorrentes, 3 (2%) não recorrentes. Em 103 (57%) figuras, não foi possível identificar-se a temática, por conta do estado de degradação, sobreposições e enorme quantidade de registros contemporâneos sobre as pinturas. Identificaram-se as seguintes temáticas: RT-14, RT-16, RT-17, RT-21, RT-22, RT-26, RT-27, RT-45, RT-48, RT-52 e RT-77 (Fig. 32 a 43).

 

Figura 32 - Gráfico sobre a recorrência temática das figuras reconhecíveis; Fonte: Os autores (2016).

 

Figura 33 - Recorrência temática RT-14; Fonte: Kestering (2007, p. 86); Lima Filho (2013, p.117)
e Toca do Gado, painel 14.

 

Figura 34 - Recorrência temática RT-16; Fonte: Kestering (2007, p. 87 e Toca do Gado, painel 6

 

Figura 35 - Recorrência temática RT-17; Fonte: Kestering (2007, p. 87) e Toca do Gado, painel 17

 

Figura 36 - Recorrência temática RT-21; Fonte: Kestering (2007, p. 88) e Toca do Gado, painel 18

 

Figura 37 - Recorrência temática RT-22; Fonte: Kestering (2007, p. 88) e Toca do Gado, painel 8

 

Figura 38 - Recorrência temática RT-26; Fonte: Kestering (2007, p. 89), Lima Filho (2013, p. 120)
e Toca do Gado, painel 8

 

Figura 39 - Recorrência temática RT-27; Fonte: Kestering (2007, p. 89); Souza (2014, p. 33)
e Toca do gado, painel 14

 

Figura 40 - Recorrência temática RT-45; Fonte: Kestering (2007, p. 94) e Toca do Gado, painel 9

 

Figura 41 - Recorrência temática RT-48; Fonte: Kestering (2007, p. 95); Lima Filho (2013, p. 126) e Toca do Gado, painel 14

 

Figura 42 - Recorrência temática RT-52; Fonte: Kestering (2007, p. 96) e Toca do Gado, Painel 1

 

Figura 43 - Recorrência temática RT-77; Fonte: Kestering (2007, p. 107); Lima Filho (2013, p.133)
e Toca do Gado, painel 1



4.3. Figuras reconhecíveis não recorrentes

Das 76 figuras reconhecíveis em que se conseguiu identificar a temática, três não eram recorrentes. Elas foram denominadas de NR-70, NR-71 e NR-72 (Fig. 44 a 46), seguindo a sequência das pesquisas supracitadas na região de Sobradinho.

 

Figura 44 - Temática não recorrente NR-70, painel 13; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos

 

Figura 45 - Temática não recorrente NR-70, painel 17; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos

 

Figura 46 - Temática não recorrente NR-70, painel 19; Foto: Raphael Godinho Martins dos Santos

 

4.3. Discussão

Consideram-se as pinturas rupestres como fragmentos de um sistema de comunicação ou de um sistema visual de representação, impressos, voluntariamente por grupos que se fixaram em determinada área (LIMA FILHO, p. 138). Acredita-se ser indispensável a análise das formas e expressividade do registro, já que elas representam realidades e experiências de vida do autor, assim como mostram modificações ocorridas por conta de mudanças ambientais. “As pinturas rupestres foram realizadas com base no conjunto de conhecimentos acumulados pelos autores, na sua relação com o contexto ambiental”. (KESTERING, 2007, p 150).

A grande maioria das pinturas da área estudada (89%) são figuras reconhecíveis, que expressam realidades não conhecidas pelos pesquisadores. Este quantitativo permite associar, em nível hipotético, o registro rupestre do sítio Toca do Gado a Tradição São Francisco[6].

A temática dominante do conjunto de figuras rupestres do sítio arqueológico Toca do Gado é a RT-17, representada por um conjunto de pontos. Esta constatação mostra que, como já era esperado, o conjunto gráfico objeto dessa pesquisa não pertence à Subtradição Sobradinho, caracterizado pela recorrência temática RT-12. Isso reforça o imperativo de se fazerem mais pesquisas, nos sítios adjacentes, para que se possa agrupar o conjunto de figuras desses sítios em uma subtradição a ser definida.



5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na região Nordeste do Brasil encontra-se uma grande quantidade de sítios de registro rupestre. Muitos deles nunca foram identificados e estudados por arqueólogos. Não se pode estudá-los apenas por interpretações fantasiosas. É preciso fazer classificações dos registros rupestres para que se reconheçam atributos da identidade dos autores dos mesmos.

No município de São Gabriel – BA, esta foi a primeira pesquisa nesses moldes. Avalia-se que o principal objetivo foi alcançado. Propôs-se, de forma preliminar e hipotética que o conjunto de grafismos da Toca do Gado foi realizado por um grupo pré-histórico da Tradição São Francisco. Identificou-se a temática dominante, que poderá ser usada como referência para comparação com outros sítios do município e da região. Para que isso seja possível é preciso que se realizem prospecções na região para identificar mais sítios arqueológicos.

Observa-se que não se identificou somente mudança no padrão temático em relação à Subtradição Sobradinho. Constatou-se mudança na composição e na estrutura do suporte sobre o qual foi realizado o universo gráfico analisado.

É preciso que sejam realizadas medidas de preservação desse patrimônio que está sofrendo com o desgaste provocado pelo tempo (fatores naturais e biológicos) e principalmente pela ação antrópica. Essas medidas têm que ter como enfoque principal a educação patrimonial. Somente a partir da educação é que a população das redondezas de áreas arqueológicas poderão despertar um sentimento de pertencimento e consequentemente preservarem seu patrimônio. Propõe-se, por isso, que a Secretaria de Educação do município de São Gabriel, insira a matéria na matriz curricular das escolas municipais, para que o tema seja trabalhado dentro das escolas. Sugere-se que se realizem excursões para que os estudantes tenham o privilégio de conhecer os sítios arqueológicos existentes na região.

 

NOTAS

[1] Kestering (2007, p. 20) propõe que a identidade “é o arquétipo a partir do qual os indivíduos e os grupos sociais constroem a ideia de quem são e estabelecem o padrão de relacionamento com outros membros da própria espécie e com o ambiente, para garantir a sobrevivência e sucesso reprodutivo”.
[2] Conjunto de pinturas ou gravuras que são separadas de forma arbitrária dentro de um sítio arqueológico, com o intuito de se alcançarem os objetivos da pesquisa.
[3] Segundo Prous (1992, p. 510), são ”todas as inscrições (pinturas ou gravuras) deixadas pelo homem em suportes fixos de pedra (paredes de abrigos, grutas, matacões, etc.). A palavra rupestre, com efeito, vem do latim rupes - rupestris (rochedo); trata-se, portanto, de obras imobiliárias, no sentido de que não podem ser transportadas (à diferença das obras mobiliárias, como estatuetas, ornamentação de instrumentos, pinturas sobre peles, etc.)”.
[4] A Área Arqueológica de Sobradinho, tem se mostrado uma área propícia para a pesquisa arqueológica em decorrência da grande quantidade de sítios que vêm sendo identificados nela. Destaca-se uma quantidade expressiva de sítios com pinturas e gravuras rupestres. Localiza-se na região Noroeste do Estado da Bahia, entre o Médio e o Submédio São Francisco. (LIMA FILHO, p.60).
[5] Kestering (2007) estabeleceu recorrências temáticas (RT) para os grafismos conhecíveis e reconhecíveis da Área arqueológica de Sobradinho. Aquelas pinturas que não se repetiram foram classificadas como não recorrentes (NR). (LIMA FILHO, 2013, p.105).
[6] “Nos grafismos predominam os motivos geométricos, mas verificam-se também desenhos que representam formas humanas e animais (peixes, pássaros, cobras, sáurios e algo parecido com tartaruga). Não existe nenhuma cena e, na maioria dos casos, as figuras são feitas em duas cores. Como outras tradições, também apresenta variedades regionais que contam com representações de pés humanos, armas, instrumentos. (...) Os artesãos demonstram um forte sentido de “efeito” na combinação das figuras geométricas, o que torna os painéis extraordinariamente espetaculares.” (GASPAR, 2003, p. 52-53).

 

 

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Martins dos Santos, Raphael Godinho y Kestering, Celito.

Registros Rupestres da Toca do Gado, Município de São Gabriel - BA
En Rupestreweb, http://www.rupestreweb.info/tocadogado.html


REFERÊNCIAS

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